Mudanças na Capes e na avaliação universitária
Minha experiência na vice-chefia do Colegiado do Programa de Pós-Graduação não foi especialmente intensa, pois tinha na chefia o Luiz Alberto Gonçalves, que se ocupou do dia a dia do Programa e a ele se dedicou.
Dois fatos apenas me marcaram no período.
O primeiro foi nosso esforço para aumentar a nota do Programa na Capes, após, se não me engano, experimentarmos sucessivas quedas na avaliação. A Capes estava modificando suas diretrizes e normas, refletindo procedimentos e disposições do campo das ciências “duras” e os generalizando para as Ciências Humanas e para a Educação. Me lembro da pressão da avaliação e de, embora considerasse minhas algumas das exigências da Capes, sentir um grande desconforto pelo fato de que a pesquisa, e não mais a articulação entre a docência, a extensão e pesquisa, seria o centro da formação de professores universitários e de sua prática.
O segundo fato foi a constatação de que dois projetos estavam em risco nesse quadro mais amplo: um era o projeto do Ceale, que dirigia naquela época, se minha memória não falha. O Ceale tinha por base a ideia de que haveria interseções entre pesquisa, extensão e docência e que essas três atividades se completavam mutuamente, uma alimentando outra. O arrefecimento das exigências da Capes e a consolidação de todo um sistema de avaliação na Universidade, que não parecia levar em conta as especificidades do conhecimento produzido na área educacional, me deixaram, na verdade, sem rumo, sem saber como lidar com um sistema de crenças e disposições que organizavam meu trabalho e no qual ou pelo qual me havia formado como professor universitário, uma vez que me formei no Ceale e no Programa de Pós-Graduação da FaE. Foi um período difícil.
As dificuldades se agravaram pelas ameaças que esse novo modo de entender a carreira e a atuação docente em função das próprias características do Programa: ainda estava em vigor o antigo currículo do mestrado e do doutorado, baseados numa reflexão inicial sobre a prática, para levantamento de problemas a serem respondidos pela pesquisa, cujos resultados voltariam à prática, criando uma espécie de círculo articulado prática-teoria-prática. A disciplina responsável pela reflexão inicial era a ACPP – “Análise Crítica da Prática Pedagógica” –, aprofundada pelo trabalho com pequenos grupos de orientandos que construíam, com essa base, seus projetos de pesquisa. Tudo isso procurava atribuir ao conhecimento um caráter coletivo e sempre alicerçado em problemas vividos ao longo da experiência profissional e política.
As novas formas de avaliação Capes puseram em jogo esse modelo curricular. Para nos auxiliar num processo de busca de conciliação, fizemos uma avaliação externa. Lembro-me apenas de que a Marli André e o Luiz Antônio Cunha integraram uma comissão de avaliação. Eu me lembro da reunião final, na sala 307. A reunião foi, como em geral eram as do Programa, tensa, mas foi especialmente tensa. Dois grandes modelos de formação de pesquisadores e docentes universitários estavam em jogo. Dessa reunião me lembro apenas daquilo que marcou o final. Marli André disse: “Chega de saudosismo” ou “Não dá pra ter saudosismo”. Tratava-se de um incentivo. E eu só me perguntava, aflito: o que fazer com essa concepção de formação organizada pela articulação entre prática e teoria? Que concepção a substituiria?
Algum tempo depois o currículo do Programa se alterou para enfatizar a formação de pesquisadores, a articulação estreita entre pesquisas docentes e discentes, entre docentes da Pós e da Graduação. Minha geração ficou perdida entre dois modelos distintos de formação, com um pé num e um pé noutro. Não se mudam facilmente disposições adquiridas.
Antônio Augusto Gomes Batista (Dute)
Vice-coordenador do PPGE
(1998-2000)