As agendas são as pegadas
De volta à Faculdade de Educação, após concluir meu doutorado em Literatura Comparada (novembro de 1994), tudo o que almejava era me inserir na linha de pesquisa Educação e Linguagem para continuar minhas pesquisas em literatura, história da leitura, práticas de leitura e formação de leitores. Essas temáticas, ainda embrionárias na linha, me faziam crer que teria um papel importante no acolhimento de futuros mestrandos e doutorandos que demandavam orientação nesse campo. Fui forçada a desacelerar meu ímpeto acadêmico pela necessidade imperativa de assumir a coordenação do Programa que vivia uma situação bastante peculiar, como de resto, grande parte dos Programas de Pós-graduação pelo país: o grande número de aposentadorias. Ao contrário do esperado, um tempo de aprendizagem, de maturação junto aos mestres que me formaram, fui convocada a assumir a função, por ser, como cunhou a professora Magda Soares, “uma nova velha”. Meus longos anos de faculdade (entrei em 1980) me credenciavam para o cargo, mesmo recém ingressada no Programa. Não tive escolha! Mas uma exigência minha garantiu o respaldo que tive durante as duas gestões: Magda Soares, minha amiga e mestra, teria de aceitar a vice-coordenação, com minha promessa de importuná-la o mínimo possível. Ela não teve escolha! E assim foi formada uma dupla que causou perplexidade e desconfiança em muitas instâncias: quem era aquela “menina” que se apresentava como coordenadora de um programa tão respeitado como o da UFMG? Um erro de digitação? Magda, com certeza, era a legítima coordenadora. Paguei um alto preço pessoal por isso.
Foi esse sentimento que me moveu quando revisitei as agendas desse período - tenho o hábito de conservar agendas até hoje. Assim que abria cada uma delas, lembrava-me dos sentimentos de então. A maioria das agendas que agora tenho em minhas mãos me permitiria, pensava eu, além de recuperar atividades realizadas, também me revelariam os desafios, as inquietações e alegrias também. Não levei muito tempo para constatar que não havia nada disso nelas. E o que me deixou mais desconcertada foi constatar que, para o depoimento solicitado, eu teria que construir uma narrativa dessas lembranças. Talvez, uma narrativa pouco confiável; não uma narrativa enganosa. O que acontece é que cada história tem múltiplos fios, e elas tendem a deixar de fora eventos que não se enquadrem em suas perspectivas. Fechei as agendas e as pus de lado. Mas permaneceu o medo de não corresponder e o sentimento de falta. Percebi, também, um certo otimismo em poder relatar que, nesses anos, realizamos o que era possível e, dentre tantas atividades, algumas delas precisam ser compartilhadas: a criação de uma logo para o Programa por meio de concurso que envolveu estudantes do curso de Comunicação da UFMG; a retomada da nossa revista - Educação em Revista (parada 9 números); o início de parceria com a CAPES para realização de Mestrados Interinstitucionais – MINTER (nosso programa foi o primeiro a assumir essa tarefa e fechou com a UFG – campus Jataí – após análise de 14 propostas, tornando-se referência para futuros convênios dessa natureza); o doutorado interinstitucional - DINTER – com a UFJF (essas experiências embrionárias foram responsáveis pela expertise que o programa tem hoje nessa área de atuação); nossa participação contínua como membro da comissão de avaliação da CAPES na área da educação e a celebração dos 25 anos do programa. Foram essas atividades que se destacaram ao me aproximar das agendas, guardadas em uma das gavetas do meu escritório.
Aparecida Paiva
Coordenadora do PPGE
(1995-1998)