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Cheguei à UFMG em 1992 para um Mestrado em Educação. Vinha de uma peregrinação em um curso de Pedagogia de cunho tecnicista no Instituto de Educação de Minas Gerais. Éramos 21 mestrandos (*) oriundos de territórios em lutas que se travavam naqueles tempos tão marcados pela abertura política e pelos movimentos sociais fortemente organizados. Alguns vinham das lutas do Araguaia (Heloísa e Cascão), outros vinham da luta por creche/Educação Infantil (Maurilane, Selma, Regina), educação popular na periferia (Amarildo atuava no Cabana) e/ou lutas por direito à saúde bucal (Mara e Simoninha). Outros vinham ainda de projetos inclusivos no interior das escolas públicas (Mafá, Ceris Ribas, Jane) e comunitárias (Gislene). Outros já estavam conectados nas brincadeiras de rua (Zé Alfredo Debortoli). Aninha Galvão vinha do Recife. Tínhamos um colega Angolano (Luzaiadio André), professor da Universidade 11 de Novembro (com a qual firmamos convênio posteriormente). Eu estava muito imersa nas lutas urbanas. Este pouco convívio, no entanto, ampliou meus horizontes em termos de lutas políticas e as suas dimensões educativas para os trabalhadores e seus filhos. À época, minhas tarefas políticas e sindicais me consumiam o tempo de existência e concorriam fortemente com minha iniciação à pesquisa. Fui aluna dos melhores pesquisadores de várias áreas, entre eles (as) Magda Soares, Lucília Machado, Miguel Arroyo, Carlos Cury, Neidson Rodrigues, Oder Santos, entre outros que compunham o corpo docente do PPGE naquele período. 

Naquele ano, Magda Soares, Ana Lúcia Casassanta e Glaura Vasques coordenavam os seminários nomeados Análise da Prática Pedagógica (ACPP) onde decorticávamos nossos memoriais buscando extrair deles um recorte de pesquisa. Os objetos de pesquisa emergiam destes debates coletivos. Tempos de muita aprendizagem na articulação entre experiência social, vivenciada e narrada nos memoriais, de onde emergiam os recortes de pesquisa e nos orientavam para campos de pesquisa já consolidados: Trabalho e Educação; Educação de Movimentos Sociais; História da Educação; Sociologia da Educação; Linguagem e Escola; entre outras. Estas linhas eram fortemente vinculadas à campos de pesquisa nacionais e imediatamente um horizonte epistêmico se abria em diálogo com nossos objetos de estudo lapidados academicamente. Foi um dos momentos fortes do PPGE, tendo sido um tempo muito rico para minha formação. Mas, talvez, o meu espanto maior foi ser recebida por Magda Soares que abriu a primeira sessão de trabalho nestes seminários ACCP daquele ano, afirmando, vocês chegaram aqui porque são milagrosos... nunca esqueci esta primeira frase que ouvi como Mestranda do PPGE. Sim, vínhamos de um tempo de muita exclusão social e do Direito à Educação, chegar ao Mestrado era realmente quase um milagre para nós, oriundos das camadas populares nas fronteiras de lutas sociais mais amplas, entre estes territórios, o escolar. Esta frase ainda hoje ecoa no ethos do PPGE, e da FaE/UFMG, pelo esforço contínuo de associar conhecimento e inclusão social.

(*)Amarildo Gomes Pereira (in memoriam); Ana Maria Oliveira Galvão; Cancionila Janzkovski; Ceres Leite Prado; Ceres Salete Ribas; Flávio Couto de Oliveira; Gislene Valério de Barros; Heloisa Andrade;  Jane Quintilhiano; José Alfredo Debortoli; José Geraldo Pedrosa; Luzaiadio André; Mara Vasconcelos; Maria de Fátima Cardoso Gomes; Maria Madalena Assunção; Maurilane Bicas; Regina Célia Dias; Mônica Dourado Abreu; Rodolfo Alexandre Inacio (Cascão); Selma das Graças Diniz Passos; Simone Dutra Lucas. 

Daisy Moreira Cunha

Coordenadora do PPGE 

(2012-2014)

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